OS CAMINHOS DA CIÊNCIA BRASILEIRA: OS SANITARISTAS
Diamantino Fernandes Trindade
Lais dos Santos Pinto Trindade
INTRODUÇÃO
Mestre João era astrólogo e físico na expedição de Pedro Álvares Cabral e foi o primeiro europeu a exercer funções de médico no Brasil. Em sua carta, datada de primeiro de março de 1500, enviada ao Rei D.Manuel, fala dos bons ares e do clima ameno da nova terra, bem como a ausência de várias doenças comuns na Europa. Poucas enfermidades acometiam os índios e, quando isso ocorria, eram tratadas pelos pajés que associavam “práticas mágicas” com o uso de ervas nativas com propriedades curadoras.
Os europeus trouxeram consigo uma trágica herança para os nativos da terra: doenças aqui desconhecidas como a varíola e o sarampo que mataram milhares deles. Vieram de lá também, a tuberculose, a lepra, doenças venéreas e muitas outras. Com os escravos chegaram a febre amarela e diversas verminoses.
Essas doenças adaptaram-se e tornaram-se endêmicas ou epidêmicas. A nova terra, antes sadia, tornou-se, segundo o professor Miguel da Silva Pereira, um “imenso hospital” nos albores do século XIX. Como não eram conhecidas as etiologias tratava-se apenas os sintomas. Contribuiu significativamente para esse estado de coisas, a vinda da Família Real, com mais de quinze mil pessoas, que ajudou a proliferar tais doenças.
O saneamento era quase inexistente em função do descaso das autoridades públicas com o tratamento de esgotos.A distribuição de água potável se dava em chafarizes de onde os escravos a transportavam para as residências. O processo de construção de aquedutos era muito lento. O da Carioca, no Rio de Janeiro, demorou cerca de 150 anos para ficar pronto. As condições dos esgotos eram deploráveis. Conforme Katinsky (1994): os dejetos eram deixados em grandes barris (tigres) e um escravo, à noite, de preferência, despejava-o no ponto mais próximo do rio, ou eram acumulados em “casinhas”, sobre um buraco no terreno dos fundos das casas (fossas negras).
No verão a situação tornava-se ainda pior e, no Rio de Janeiro, os escravos tinham a desagradável tarefa de levar os dejetos das residências até as praias. Recebiam então a denominação de “tigres” talvez pela cor tigrada com que os dejetos fecais sujavam a sua pele. Como havia grande facilidade de recrutar “tigres” a construção de rede de esgotos foi protelada por muito tempo.
Na segunda metade do século XIX, em decorrência dos estudos feitos na área da saúde sobre as relações entre os microorganismos presentes na água potável, hábitos higiênicos, serviços de tratamento de esgotos e a proliferação de doenças, alguns médicos e engenheiros iniciaram algumas ações no sentido de fornecer melhores condições de vida à população. Só então as redes de esgoto foram construídas.
Uma grande contribuição foi dada por Louis Pasteur, responsável por descobertas que possibilitaram o desenvolvimento de soros e vacinas, além da demonstração experimental da teoria dos micróbios causadores de doenças que originou um interessante processo social denominado de “revolução pasteuriana” modificando substancialmente as práticas científicas, os hábitos cotidianos e a medicina a partir do final do século XIX.
D.Pedro II mantinha estreitas relações com Pasteur e teve o seu primeiro contato com o cientista numa das sessões da Academia de Ciências da França. Em 1873 visitou-o em seu laboratório e expôs-lhe o problema do surto de febre amarela em algumas cidades brasileiras. A troca de correspondências entre eles tornou-se rotineira e Pasteur colaborou para o desenvolvimento da ciência brasileira enviando vários trabalhos de pesquisa dos seus laboratórios e recebendo dez jovens médicos brasileiros para participarem de cursos no Instituto Pasteur em Paris.
Iniciou-se assim, a fase científica da medicina brasileira. Em 1892, o governo do Estado de São Paulo criou o Serviço Sanitário responsável pela instalação do Instituto Vacinogênico (1892), do Instituto Bacteriológico (1893) – onde começou a pesquisa microbiológica no Brasil – e do Instituto Butantan (1899). O Instituto Butantan e o Instituto Soroterápico Federal em Manguinhos, no Rio de Janeiro, foram criados com a finalidade de produzir soros e vacinas para combater a peste bubônica, cuja primeira manifestação foi em 1899. Anteriormente (1888) fora criado o Instituto Pasteur, no Rio de Janeiro, com o intuito de produzir uma vacina para o combate da hidrofobia. O Instituto Pasteur de São Paulo foi criado em 1903.
Alguns médicos sanitaristas obtiveram destaque no controle de epidemias no Brasil. Em 1893, Adolpho Lutz passou a dirigir o Instituto Bacteriológico, iniciando em São Paulo a pesquisa médica. Juntamente com Vital Brasil trabalhou no controle da manifestação de peste bubônica em Santos. O surto de febre amarela na região de Campinas foi combatido pelo diretor do Serviço Sanitário, Emilio Ribas. O médico e sanitarista Oswaldo Cruz, de Manguinhos, foi convocado pelo Governo Federal para combater epidemias que matavam milhares de pessoas na região, como a febre amarela, a varíola e a peste bubônica. Carlos Chagas teve um papel importante na história da investigação médica com a descoberta do parasita e do inseto transmissor da enfermidade que ficou conhecida como “doença de Chagas”. Vejamos então um pouco do trabalho destes trabalhadores incansáveis pela saúde do povo brasileiro.
ADOLPHO LUTZ
O médico, sanitarista e pesquisador Adolpho Lutz nasceu em 18 de dezembro de 1855 no Rio de Janeiro. Aos dois anos de idade foi levado para a Suíça, terra natal de seus pais. Formou-se em Medicina, na Universidade de Berna, em 1880. Em 1881 retornou ao Brasil instalando seu consultório na cidade de Limeira, interior de São Paulo. Ali atendeu a população carente entre 1881 e 1866. Ia freqüentemente à Europa para atualizar-se em centros científicos mais avançados como Paris, Viena e Londres, trazendo este conhecimento para o Brasil. Foi para Hamburgo, na Alemanha, onde realizou pesquisas sobre a causa da lepra (hanseníase) com o professor Unna. Esta doença matou uma parte significativa da população do Hawai. Lutz, prontamente, viajou para lá, instalando-se em Honolulu no ano de 1899. Assumiu o cargo de diretor do hospital de Kalihi, na ilha Molocai. Após árduo trabalho contribuiu significativamente para a erradicação da doença. Retornou ao Brasil em 1892, desta vez fixando-se em São Paulo.
Muitas doenças assolavam a cidade, como a varíola, a febre tífica, a febre tifóide, o cólera, a malária e a tuberculose. Em 1893 uma epidemia de cólera, doença pouco conhecida na época, mobilizou os pesquisadores e técnicos do Instituto Bacteriológico. Adolpho Lutz, já como diretor desse instituto, utilizou um método eficiente para a época, no sentido de diagnosticar a doença. Alguns médicos, mais conservadores, contestavam o diagnóstico do cólera pelos os sintomas (grave desinteria). Adolpho enviou então, para algumas clínicas européias, amostras de fezes de várias pessoas contaminadas e os resultados confirmaram o seu diagnóstico. Pesquisou e demonstrou também a presença em São Paulo da desinteria amebiana, da escarlatina e do mosquito transmissor da malária.
Outro marco importante de sua pesquisa foi a identificação do mosquito Aedes aegypti como veículo do vírus causador da febre amarela. Em 1902, juntamente com Emilio Ribas serviu de cobaia numa arriscada experiência que viria a comprovar o mecanismo da transmissão dessa doença. Adotou então, algumas medidas para erradicá-lo como o uso de vapor de enxofre e pó de piretro, além de exterminar as larvas com o uso de querosene e essência de terebentina nas águas paradas.
Em 1908 deixou o Instituto Bacteriológico e aceitou o convite de Oswaldo Cruz para trabalhar no Instituto Manguinhos onde ficou até a sua morte, em 6 de outubro de 1940. A partir de então o Instituto Bacteriológico recebeu o nome de Instituto Adolpho Lutz em homenagem a este brilhante cientista brasileiro.
VITAL BRAZIL
O célebre médico brasileiro nasceu em 28 de abril de 1865, na cidade mineira de Campanha, no dia de São Vital. Recebeu então o nome de Vital Brazil Mineiro de Campanha. Ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro aos 21 anos. Com poucos recursos financeiros, fazia plantões como escrivão nas delegacias de polícia, para custear seus estudos. Graduou-se em 1891. Depois de formado participou do combate a epidemias como cólera, varíola e febre amarela no interior de são Paulo.
Em 1896 foi para a cidade paulista de Botucatu. Ali constatou um significativo aumento dos acidentes com cobras, decorrentes dos desmatamentos. Passou então a se dedicar à pesquisa ofídica, montando, em 1899, um laboratório na fazenda Butantan, em São Paulo, que depois se transformaria no Instituto Butantan. Na sua administração, entre 1901 e 1919, este instituto tornou-se conhecido no mundo inteiro pela produção de soros antiofídicos e pelos seus serpentários. Ainda em 1899, surgiu no porto de Santos, uma gravíssima epidemia que se propagou até o Rio de Janeiro e a outras cidades brasileiras. A suspeita recaiu sobre a febre amarela. Sob a orientação de Adolpho Lutz, conseguiu culturas positivas do microorganismo da peste. Oswaldo Cruz prosseguiu nas pesquisas de Vital, que contraíra a doença em caráter benigno, e constatou que era a peste bubônica.
Passou depois a estudar os trabalhos do médico francês Albert Calmette que havia produzido um antídoto para o veneno das cobras najas. Vital aprofundou estas pesquisas e desenvolveu o soro antiofídico para as cascavéis e jararacas, as espécies que mais causavam mortes no Brasil. Com esse soro as mortes pelas picadas destas cobras reduziram-se em 50 por cento.
Em 1916, numa conferência nos Estados Unidos, apresentou os trabalhos do Instituto Butantan. Suas pesquisas tiveram pouca repercussão, porque os americanos consideravam baixo o risco de picadas entre os trabalhadores rurais já que estes trabalhavam calçados. Enquanto aguardava o navio que o traria de volta ao Brasil, foi chamado às pressas para atender um funcionário do zoológico do Bronx que havia sido picado por uma cobra e corria risco de morte. Vital utilizou algumas ampolas do soro antiofídico que trouxera do Brasil e aplicou no paciente. Depois de doze horas, o funcionário do zoológico já estava fora de perigo. O fato tornou-se manchete no jornal The New York Times e teve repercussão mundial.
Depois de 20 anos de incansável trabalho no Insituto Butantan, mudou-se para Niterói onde fundou o Insituto Vital Brazil. Morou o resto da vida nessa cidade, onde faleceu no dia 8 de maio de 1950.
EMILIO RIBAS
Emilio Marcondes Ribas nasceu no dia 11 de abril de 1862, na cidade de Pindamonhangaba no Estado de São Paulo. Desde pequeno sonhava em ser médico. O sonho se concretizou em 1887, quando se formou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Logo após, retornou ao interior de São Paulo para exercer a sua profissão. Tinha fortes ideologias políticas e fundou um clube republicano para fazer frente ao Império decadente. Foi nomeado, pelo governo de São Paulo, inspetor sanitário e participou no combate a várias epidemias que assolavam algumas cidades paulistas.
Nessa função participou da higienização de Jaú e Campinas, orientando a canalização de córregos e a remoção do lixo das ruas. O sucesso das suas ações conduziram-no à direção do Serviço Sanitário em 1895, cargo que ocupou por quase 20 anos. Combateu o surto de febre amarela, exterminando seis mil viveiros de mosquitos Aedes aegypti. Em pouco tempo, a mortalidade causada pela febre amarela foi reduzida a apenas dois casos no Estado de São Paulo. Foi por sua iniciativa que o governo paulista adquiriu a fazenda Butantan, onde se instalou o Instituto com o mesmo nome.
Outro problema grave de saúde pública que mereceu a atenção de Emilio Ribas foi a lepra (hanseníase). Em 1913 foi comissionado pelo governo de são Paulo para estudar a questão dessa doença. Dedicou-se intensamente às melhorias das condições de tratamento dos leprosos. Em várias publicações orientou cientificamente, de acordo com as mais modernas aquisições, as diretrizes para a solução da doença. Considerava uma falta de humanidade o isolamento dos portadores por isso, construiu um asilo nas proximidades da cidade de São Paulo, que visitava três vezes por semana.
Durante a sua administração foram completamente debeladas as periódicas epidemias de varíola no Estado de São Paulo, graças à disseminação interna da vacina. Estudou e pesquisou intensamente a forma epidêmica para-variólica conhecida popularmente como alastrim, apresentando os resultados em vários centros científicos, onde foram bem aceitos.
Todos os assuntos sanitários eram abordados por Emilio Ribas. Criou frentes de combate à tuberculose, difteria, paludismo, tracoma e outras doenças.Além do Instituto Butantan, fundou também a Seção de Proteção à Primeira Infância, a Inspetoria Sanitária Escolar, o Serviço de Profilaxia e Tratamento do Tracoma. Reorganizou o Serviço Sanitário, o Desinfectório Central, o Hospital de Isolamento, o Laboratório de Analises Químicas e Bromatológicas e o Laboratório Farmacêutico.
Ribas estudou a febre amarela em Cuba e mostrou aos médicos brasileiros que em nosso país a doença era combatida de forma errada. Em 1902 fez uma investida pioneira e histórica, isolando-se numa sala, juntamente com Adolpho Lutz e outros voluntários, com um mosquito transmissor da febre amarela (Aedes aegypti) que havia picado um doente. Foram contaminados e internados para tratamento. Simultaneamente, outros voluntários ficaram dez dias dormindo com camisas sujas de vômito e urina dos doentes, saindo ilesos do experimento. Ribas comprovou, então, que não havia contágio direto, sendo inútil a manutenção dos doentes de forma isolada no Hospital de Isolamento. Nesse hospital que, em 1932, recebeu o nome de Hospital Emilio Ribas e hoje é o mais importante instituto de infectologia da América Latina, o ilustre filho de Pindamonhangaba morou durante 30 anos, tendo falecido no dia 19 de fevereiro de 1925.
CARLOS CHAGAS
Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas nasceu na cidade mineira de Oliveira em 9 de julho de 1878. Aos 16 anos ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Formou-se em 1903. Em 1905 participou de uma bem sucedida campanha de combate e erradicação da malária no interior do Estado de São Paulo. Sua ação eficaz, que tinha por base a desinfecção familiar, tornou-o conhecido como autoridade científica em todo mundo. Em 1906 passou a integrar a equipe do Instituto Oswaldo Cruz para mais tarde assumir o cargo de diretor de Saúde Pública.
Chagas viajava constantemente pelo interior do Brasil para trabalhar no combate a epidemias. Montou seu laboratório num vagão de trem, vizinho ao seu quarto de dormir. Fazia muitas visitas familiares para desinfecção e, numa dessas visitas a um casebre na cidade mineira de Lassance, notou que nas paredes existiam vários espécimes do inseto chamado, popularmente, de barbeiro. Recolheu alguns deles e os levou para estudos em seu laboratório. Nessa pesquisa conseguiu identificar o parasita do barbeiro que ele denominou de Trypanossoma cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz. Descobriu também a existência desse inseto em animais domésticos e, informado de que vários moradores do local padeciam de doenças estranhas, dedicou-se a estudar a relação entre essas doenças e o parasita. A sua ampla pesquisa possibilitou, além da descoberta do parasita, determinar a sua anatomia patológica, a epidemiologia, as formas clínicas, os meios de transmissão, a profilaxia e a sintomatologia da doença. Em 1909, anunciou a descoberta do parasita no sangue de uma menina de três anos chamada Berenice, que ele curou e só morreu aos 82 anos. A repercussão da sua pesquisa foi tão grande que, o mal ficou conhecido em todo mundo como doença de Chagas. Foi indicado ao Prêmio Nobel em 1913, 1920 e 1921.
Segundo Tiner (2004), Chagas participou efetivamente no levantamento das condições sanitárias dos habitantes da Amazônia, liderou a campanha contra a epidemia de gripe espanhola no Rio de Janeiro e publicou trabalhos de grande valor científico. Em 1912, recebeu o prêmio Schaudinn, conferido pelo Instituto de Doenças Tropicais de Hamburgo, na Alemanha, pelos seus estudos em protozoologia e microbiologia. Após a morte de Oswaldo Cruz, em1917, foi nomeado diretor do Instituto Oswaldo Cruz. A partir 1920, passou a exercer o cargo de diretor do Departamento de Saúde Pública. Em 1921 tornou-se o primeiro brasileiro a receber o título de doutor Honoris Causa pela Universidade de Harvard. Em 1925, recebeu Albert Einstein quando da sua visita ao Instituto de Manguinhos.
Faltou ao trabalho, no Instituto Oswaldo Cruz, apenas no dia de sua morte em 9 de novembro de 1934. Carlos Chagas Filho declarou à Revista Isto É que poucos dias antes de sua morte, demonstrou manifestar os sintomas da doença que havia descoberto. “Ele sabia que estava contaminado e escondeu”.
OSWALDO CRUZ
Oswaldo Gonçalves Cruz nasceu em São Luis do Paraitinga, no interior do Estado de São Paulo, no dia 5 de agosto de 1872. Ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro aos quinze anos e formou-se em 1892. Em 1896 foi para Paris e se especializou em Bacteriologia no famoso Instituto Pasteur, onde deixou um grande número de admiradores pela sua inteligência e dedicação aos estudos. Especializou-se também em urologia, pois sabia que as doenças venéreas eram um problema grave, principalmente a gonorréia, que contaminava muitos brasileiros.
A peste bubônica assolava o Rio de Janeiro e o diretor do recém criado Instituto Soroterápico de Manguinhos, Barão de Pedro Afonso, solicitou à direção do Instituto Pasteur que enviassem um especialista para auxiliar no combate à epidemia. A indicação recaiu sobre Oswaldo Cruz, que se tornou diretor-técnico em 1900, e diretor geral em 1902. Sob a supervisão de Oswaldo, o Instituto Soroterápico preparou os soros e vacinas necessários para o combate à doença. Sob sua direção o Instituto de Manguinhos passou a exercer atividades de pesquisa e formação, além da produção de soros. Conforme Santos Filho (1979), Oswaldo Cruz construiu para sede do instituto um verdadeiro palácio em estilo mourisco, contratou auxiliares e ensinou-lhes a investigação científica ordenada, enviou-os à Europa para especialização, orientou-os nas pesquisas, criou um curso de Medicina Experimental e fundou a revista intitulada Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (1909). O Instituto tomara seu nome e foi por ele dirigido até a sua morte em 1917. O pesquisador da Fiocruz, Paulo Gadelha, declarou a revista Isto É que ele queria construir um Templo da Ciência, um símbolo. Por isso tanto luxo e ornamentos.
Aos candidatos às vagas de pesquisador no Instituto Manguinhos fazia a seguinte pergunta: o que o senhor sabe sobre bacteriologia? Se a resposta fosse “muita coisa” ou “tudo”, o candidato era imediatamente reprovado. Se dissesse “nada, mas quero aprender”, era imediatamente aceito. Quando assumiu a direção do Instituto tinha a intenção de preparar novos pesquisadores, ensinando o que havia aprendido na Europa.
Em 1904 o Rio de Janeiro, então com cerca de 800 mil habitantes, era uma cidade perigosa em função do grande número de doenças como tuberculose, febre amarela, peste bubônica, varíola, tifo, cólera e outras enfermidades contagiosas. A capital da República era uma vergonha nacional. O presidente Rodrigues Alves resolveu agir para acabar com elas, convocando para isso Oswaldo Cruz. Suas políticas de saneamento mexeram com a vida dos cariocas, principalmente dos pobres. Em outubro de 1904, entrou em vigor a Lei da Vacina Obrigatória para conter o surto de varíola que dizimava milhares de pessoas, o que gerou petições contrárias assinadas por cerca de quinze mil pessoas. Oswaldo Cruz propôs uma arrojada regulamentação que exigia comprovantes de vacinação para matrículas em escolas, empregos, viagens, hospedagens e casamento. Além disso, os agentes sanitários invadiam as casas e cortiços para eliminar focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da febre amarela e para limpar caixas d’água e calhas. A polícia sanitária multava donos de imóveis insalubres. Os doentes deveriam ficar isolados em suas casas.
Todas estas ações geraram muitos protestos da população e da imprensa, em parte pela falta de informação, e estabeleceu-se a chamada “Revolta da Vacina” com muitas greves e tiroteios. O governo levou seis dias para conter o motim, após o que suspendeu a obrigatoriedade da vacina. Em 1908, uma grande epidemia de varíola acabou por levar a população em busca de ajuda aos postos de vacinação e atestando a validade dos métodos de Oswaldo Cruz. De acordo com Tiner (2004), um ano antes fora declarada a erradicação da febre amarela. Ainda em 1907, ele recebeu a medalha de ouro no XIV Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim.
Em 1913, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras e, em 1916, assumiu o cargo de prefeito da cidade de Petrópolis, onde morava desde 1915. Faleceu, aos 54 anos, em 11 de fevereiro de 1917.
Estes cinco brilhantes médicos tinham uma íntima relação de trabalho e pesquisa. Nunca tiveram a preocupação de conquistar cargos a qualquer preço, de publicar centenas de artigos em revistas internacionais. Eram simples e dedicaram suas vidas à saúde pública e ao povo. Por isso foram grandes homens e grandes cientistas e permanecerão sempre vivos no coração da humanidade.
BIBLIOGRAFIA E SITIOGRAFIA
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CARVALHO, José Murilo. Abaixo a vacina! In: Nova História, n.13. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2004.
KATINSKY, Julio Roberto. Sistemas Construtivos Coloniais. In: VARGAS, Milton. História da Técnica e da Tecnologia no Brasil. São Paulo: Unesp/CEETEPS, 1994.
MOTOYAMA, Shozo (org.). Prelúdio para uma história: Ciência e Tecnologia no Brasil. São Paulo: Edusp/FAPESP, 2004.
RAEDERS, Georges. Dom Pedro II e os sábios franceses. Rio de Janeiro: Atlântica, 1944.
RIBAS, Emilio. Archivos de Hygiene e Saúde Pública. Vol.1, n.1, p.7-12. São Paulo: 1936.
REIS, João José. O cotidianoda morte no Brasil oitocentista. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe (org.). História da Vida Privada no Brasil. Vol.2. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
SANTOS FILHO, Lycurgo de Castro. A Medicina no Brasil. In: FERRI, Mário Guimarães & MOTOYAMA, Shozo. História das Ciências no Brasil. São Paulo: EPU/Edusp, 1979.
TINER, John Hudson. 100 Cientistas que mudaram a história do mundo. Rio de Janeiro: Prestígio Editorial, 2004.
http://ctjjovem.mct.gov.br/index.php?action=content/view&cod_objeto=1990:
www. terra.com.br/istoé/biblioteca/brasileiro/ciência/ciencia
terça-feira, 8 de junho de 2010
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